segunda-feira, 7 de abril de 2014

A culpa é das estrelas - resenha do livro


A culpa é das estrelas
(foto retirada da net)

Esse livro é, sobretudo, para reflexão. Reflexão da vida e da consciência que temos de nós mesmos.
A narrativa fala da vida e tem um olhar muito franco quanto à doença, de que a opção é de cada um de se deixar vencer ou não por um “todo muito maior” existente. Sempre achei que a depressão é acima de tudo, um efeito colateral de ser estar triste independente de se estar doente (se bem que depressão é uma doença, não é?) Temos então um paradoxo?
Assim como a heroína, sempre desconfiei de “grupos de apoio”, na verdade sempre desconfiei de “grupos”. E nessa mesma linha, desconfio também “da mágica do amor”, acontecendo “antes de se morrer”, como um prêmio de consolação da vida, algo como: “para você não morrer sem saber...”
(foto retirada da net)

Não sei, entendo que é ficção e acho a vida mais equilibrada assim. Acho que ficaria meio desconfiada se visse a vida dando de presente a todos que estivesse em estado terminal de uma doença, um grande amor pra se consolar. Bem, talvez, se fosse assim, muita gente inclusive iria implorar para que a própria morte se antecipasse, afinal, quem não quer viver um grande amor? Sorte de poucos, diga-se de passagem.
A culpa é das estrelas também é um livro que fala de outro livro. Essa é uma estratégia muito interessante, muito sagaz. Uma boa tática de escrita que mostra maturidade do escritor na sua produção e comprova o que o autor deseja alcançar.
Pessoalmente as tentativas de otimismo soaram (para mim) às vezes um pouco meio forçadas. As personagens com câncer estão sempre falando (ou tentando falar) com indiferença sobre a própria doença, o que enxergo com certa estranheza. (Irei me explicar:) Entendo com muita clareza que cabe a cada um a forma como vai encarar a própria dor, como vai pintá-la na tela, como vai preferir sobreviver a ela. Discursos sobre a morte (o dia da própria morte) como se fosse algo praticamente banal, não é algo comum, como um aniversário que vai chegar, ou uma viagem que se vai fazer, ao menos não no meu país. Acho mais difícil ainda que adolescentes, com tanta vontade de viver, falem da morte de uma maneira tão indolente. (mas, obviamente, que existem vários estágios de aceitação da doença, bem como da morte e diante disso, tudo se torna possível). Aceito então sob esses termos.
(foto retirada da net)

Algumas frases são escritas com letras maiúsculas, para enfatizar a importância de uns pensamentos ou para mudança de pessoa com quem se fala, ou de tom, e esse é um artifício literário muito inteligente e que causa fácil compreensão no leitor.
Os jovens (em geral) se esforçam em serem os mais “aceitos” possíveis em seus grupos, não desejam ser os “diferentes” e se tornarem objetos de “chacota” dos colegas, e talvez seja essa a razão para Gus, agir de forma tão indiferente diante da perda da sua perna, embora constantemente ele seja visto pelo olhar apaixonado da Hazel; como se não fosse especialmente traumático a perda de um membro do corpo. Talvez ele seja precoce, quem sabe? O senti mais humano quando ele se sente inseguro diante das expectativas da Hazel, de ter que mostrá-la a perna amputada sem a prótese, no momento em que ficaram sozinhos no quarto na Holanda.

(fotos retiradas da net)

Uma bonita metáfora que encontrei foi na página 39 onde Hazel fala “nervosismo fofo”. Por um instante, demorei a entender e imaginei um nervosismo tão intenso e inflado como clara de ovos em neve e achei linda a construção, mas, logo percebi que era uma construção que somente tinha acontecido na minha cabeça e que ela estava apenas adjetivando “com fofura”, dando qualidade ao nervosismo de Gus. Era somente um adjetivo para o estado emocional do rapaz.
Repito que muito me agradou a criação de um livro dentro de outro livro, “a ficção dentro da ficção”, outro recurso muito importante, usado como ferramenta de construção para quem escreve. “A dor precisa ser sentida”.
Também gostei de algumas construções para dar significado a um pensamento, quando como Gus fala: “A Caroline não sofre mais de pessoalidade”; uma forma inteligente de construção literária, para a personagem se referir a uma dor ou perda. Achei algo muito bem construído pelo autor.
(foto retirada da net)

O que ficou do livro para mim, é que a vida não para, ainda que nossos amores partam. A vida é o que há de mais forte, é nela que tudo se concentra, é para isso que vivemos. No livro, fica claro que cada um à sua maneira é obrigado a viver a própria morte e cada um escolhe uma forma melhor de lidar com a dor da perda de si mesmo, cada dia um pouco mais.
A solidão parece-me a única coisa que nunca nos abandona. Sei que o comentário pode parecer meio piegas, mas foi o que senti com a leitura. Não me debulhei em lágrimas, sequer chorei, mas passei muito tempo sentindo uma tristeza recorrente, que vinha da reflexão sobre a efemeridade da vida, do quanto nascemos sozinhos e morremos da mesma forma, seja com ou sem doença terminal.
Mais uma vez, repito que respeito e entendo a forma como cada um escolhe encarar a própria morte, e não falo isso sem propriedade, já que posso falar por mim (pois passei pela experiência duas vezes), posso dizer que tomar uma postura indiferente, não diminui em nada a dor, tão pouco fará uma pessoa querida voltar e fico me perguntando se a forma de encarar a perda é tão diferente mesmo assim em cada país, se a morte que visita todo o planeta é uma só.
Fica a sensação de extrema sobriedade e não sei até hoje, o quanto isso combina com a dor da perda... Essa dor percebo que não é racional, não é sóbria, é somente uma dor que nunca se vai.
Ficamos por anos a fio esperando “a mágica da vida” e talvez a mágica da vida não seja mais que a própria morte. (O que fazemos com ela é o que menos importa).
Vi o livro muito preparado para o formato de cinema e aguardo ansiosa o dia da estreia! Dessa vez é certo que eu choro, pois já muito me emocionei no trailler. O.k?
O.k!