quinta-feira, 13 de março de 2014

sobre Destrua este diário

Quando soube pela primeira vez (no ano passado) sobre a existência do livro “Destrua este Diário” achei a ideia sensacional, inovadora e não via a hora de tê-lo em minhas mãos e em bom português! O dia chegou por acaso, numa ida à Cultura para compras de livros teóricos e ao perguntar ao vendedor ele me disse que estava saindo como água! Peguei logo o meu copo! 





Bem, tempos depois da aquisição ainda estou aqui tentando digerir tamanha enxurrada de criatividade da autora e da proposta. Não é um livro para qualquer um. Não é um livro para mim “complicada e perfeitinha”. Fiquei dias, horas, com o livro nas mãos sem conseguir saber o que fazer.
Mostrei às minhas amigas, todas quiseram roubar o livro de mim. Não permiti, porque tinha um compromisso comigo mesma de vencer a dedicatória de Keri Smith, que diz “Dedico a perfeccionistas do mundo inteiro”. (sim é escrito assim mesmo). Eu compreendi a proposta e confesso que me senti até um pouquinho ofendida no começo e pensamentos me vieram como: “O quê? Essa debochada acha que não consigo destruir 20,00 reais?!” Ou, “ Eu nem sou tão perfeccionista assim... O meu quarto é uma bagunça...” Ou mais ainda: “Sou moderna, artística e descolada a proposta me cai como uma luva! Por que eu não tive essa ideia?!” Por quê?! Logo descobri que a proposta nada tem a ver com o preço do livro, mas, com você se desfazer de coisas que você construiu dentro de si, muitas vezes a um preço muito alto. (Mais um motivo para uma eterna inveja boa da autora).







Acho que esse por que me perseguirá ainda por um longo tempo, pois realmente a sensação que fica é de que era você quem queria ter escrito um livro assim. É algo tão simples e tão genial! Dizem mesmo que as melhores ideias são as mais simples, não é?
O livro foi pensado em cada detalhe. Dá para perceber isso à cada folheada que se dá. A curiosidade nos consome e queremos lê-lo como se fosse um livro comum. Não o é. Não se engane. A visão pós-moderna da autora nos leva a um reconhecimento de nós mesmos. Quanto mais relutamos em “destruir” um livro tão perfeitinho, mas percebemos quanto de perfeitinhos temos dentro de nós.
Vejo como uma ferramenta de suporte para a evolução pessoal acredito (se é que não estou sendo exagerada neste ponto), mas o livro me disse coisas que nenhum terapeuta teve coragem de me dizer até hoje, me abriu portas e mostrou coisas que antes eu não dava atenção, como ao fato de “simplesmente” ser uma pessoa apegada ao que está certo e organizado. Fez eu me questionar por que temo tanto o caos, questionar se eu não consigo destruir um mero livro de 20,00 reais (e reafirmo que a questão nem de longe é o preço), como pretendo então destruir coisas mais profundas dentro de mim?
Sim, posso ter uma pegada melodramática, mas é fato que o livro me fez refletir sobre mim mesma e sobre o que eu aceito como certo e estruturado dentro de mim e ao meu redor. Meses depois da aquisição, ainda me pego de vez em quando olhando para o livro, pego para folhear e ver se já evoluí no quesito desapego, mas nada! Nada! Continuo travada e acho que Keri Smith sabia que iria provocar também sensações desse tipo nas pessoas, com seu livro #destruaestediário. Acho que foi tudo premeditado, seja para atingir aqueles que conseguirem realizar a proposta do livro ou para aqueles como eu.
Não me envergonho de dizer que o livro está intacto e que provavelmente continuará assim enquanto estiver em minhas mãos. Posso dizer que (inversamente ou não) de alguma forma o livro também me ajudou. Acho que a proposta original era o autoconhecimento de si mesmo, o libertar-se e compreender que criação nem sempre é ordenada (criar é esculhambar) como a autora mesmo diz. Não foi porque não destruí o livro, que depois dele não vejo destruição/criação criativa em muitas coisas.









Parafraseando Quintana lembro que disse algo relacionado ao verdadeiro gentleman, comprar três livros: um para ler, um para pôr na estante e outro para dar de presente. Bem, seguindo esse pensamento, estou me preparando para ser uma verdadeira dama e comprar mais dois exemplares: um para deixar na estante e mostrar a todas as mentes criativas que cruzarem o caminho da minha casa e outro para dar a uma pessoa especial.
Ainda estou por aqui no meu processo de reconhecimento pessoal e evolução, tomando coragem para atirar meu livro contra a parede, lambuzá-lo de café, musgo, chiclete mastigado, folhas secas, insetos e tantas coisas mais. Mas já adianto desde agora que mesmo intacto, ele já produziu grandes mudanças em mim, um grande processo de reconhecimento do que sou e do que posso me transformar.
Aos que já deram o primeiro passo, meu sincero respeito e felizes congratulações por tamanha coragem. E aproveitando para dizer que não me vejo uma covarde, mas alguém que segue caminhando e ao olhar para o lado, está vendo a si mesmo.



De olhos fechado indico “Destrua este Diário”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário