domingo, 16 de março de 2014

Cheiro de livro novo – em um relacionamento sério com um livro


O livro novo carrega um quê misterioso em cada página, ao exalar um cheiro que de longe é o melhor e mais seguro entorpecente do mundo. Nas suas páginas, também vem aquela ansiedade velada de descobrir o final, sem deixar nada para trás, sem atropelar nenhuma vírgula, nenhum ponto final. Tudo é deliciosamente calculado, é uma doce tortura a que nos propomos, quando nos deparamos com o livro novo.

O livro com o passar dos dias, depois de muito ter nos inebriado com seu cheiro de paraíso literário (sim, porque o paraíso dos livros deve ter o ar com cheirinho de livro novo), então nos leva a evoluir para um novo estágio de relacionamento, um de sentimento de posse, de ciúmes, e não somos capazes de emprestar a ninguém antes de terminar de lê-lo (muitas vezes nem depois), e ele começa a ir para todos os lugares conosco, temos prazer em levá-lo para passear no parque, só para ficar um pouco mais sozinhos com ele, e não há mais espaço em nossas mãos, quando saímos juntos. Formamos um belo par.

(imagem da internet)

Também costumamos levá-lo para o nosso trabalho, à faculdade, para sair com os amigos, e no fim do dia, ele vai estar lá do seu lado na cama, nem que seja na cabeceira. Eu chamaria isso de “está num relacionamento sério com um livro”. Nesse ponto eu sou volúvel e vou para cama com vários diferentes por ano. O relacionamento é sério, até vir outro pelo qual eu me apaixone mais, e daí o ciclo de amor e delírio recomeça.
E falando de cheiro, e cheiro tem muito a ver com instintos e com pele; eu não sei vocês, mas eu chego até a me arrepiar, dependendo do cheiro do livro. Não, eu não estou sendo extremista e vou explicar: os livros “não” possuem todos eles o mesmo cheiro. Não mesmo. Os cheiros são diferentes, porque depende muito da textura, do tratamento do papel e até das tintas que são utilizadas na impressão. E quando ao cheirar um livro novo, com aquela empolgação da “aspirada profunda” e aquilo consegue me remeter aos livros que eu lia na minha infância, sim senhor, isso consegue me arrepiar. Isso faz algum sentido? Para mim faz total!
(imagem da internet)

Não posso, contudo ser hipócrita e dizer que todo livro novo cheira bem. Alguns livros, especialmente aqueles com muitas ilustrações, recebem um tratamento nas páginas que deixa aquele cheiro esquisito que eu não sei dizer se é cheiro de cola, mas lembra muito o cheiro de encarte de loja ou algo parecido. Quando cheira assim, só se o livro for muito bom para eu comprar, porque costumo ter enxaquecas com esse tipo de experiência.
O cheirinho de livro novo, (quando agradável), quase sempre traz uma expectativa, que é de que vamos fazer algo que gostamos que é LER! Mergulhar no universo da leitura que somente o livro consegue nos transportar com tamanha propriedade.
Os gostos são variados e alguns preferem os mais velhos. “Os novinhos têm seu charme, mas particularmente, preferimos os mais velhos”. Certo, nada contra! Eu mesma já fui muito adepta dos mais velhos e toda sua experiência, a história que carregam em cada marca, cada cicatriz... Não tem como não se render ao encanto dos mais velhos também.
Os livros possuem o dom de nos entorpecer, de nos fazer rir a toa, sonhar, e até idealizar uma biblioteca gigante que jamais conseguiríamos ler em apenas uma vida. Eles também nos fazem ter remorso por não conseguir comprar todos os livros “queridinhos” sempre que vamos a uma livraria e mais ainda por não ter tempo de ler aqueles que já adquirimos, nos fazem ser indiscretos por querer vasculhar a capa de algum livro que alguém (desconhecido) está lendo e sentir uma pontinha de inveja (ruim mesmo), quando a pessoa está lendo justamente o livro que você vem planejando adquirir faz meses!
(imagem da internet)

Não há dúvidas: é de fato um caso de amor que começa na entorpecência do cheirinho bom e termina quando... Corrijo-me, não termina nunca! O círculo é vicioso que te leva a querer sempre a adquirir cada vez mais e mais livros, mesmo que não tenha mais onde guardá-los, mesmo que as pessoas que vivam com você insistam em dizer que você precisa se livrar de “pelo menos” metade daqueles livros, nem que seja pra comprar mais e você olha estupefato com aquela cara de “oi???”. Essas pessoas jamais entenderão seus sentimentos, suas relações de amor e dor para com seus livros e que, provavelmente, de todos os relacionamentos que você já teve na vida, esse parece o mais seguro e duradouro.

(imagem da internet)


Livro é a droga do bem

(imagem da internet)
Aprecie sem moderação.

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