quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

No final o que importa é o cheiro do pescoço

Uma vez assisti uma série sobre relacionamentos e a frase que me marcou foi: "no final o que conta é o cheiro do pescoço". Para mim aquilo nunca foi tão real até o dia em que me tornei refém do cheiro teu.
Somente então percebi que não importa qualquer bilhão de qualidade que a pessoa possa ter, não adianta ser somente legal, somente bom... É o cangote que se torna uma espécie de tensiômetro. É ele quem diz que todo o resto vai ser legal, vai valer a pena.
Um bom pescoço que te faz refém, te faz querer escrever um poema sobre ele, te faz sorrir sozinho nos lugares mais inusitados, cria em você uma memória olfativa, te faz querer outra vez.
Quando o cheiro do pescoço é bom, o toque é bom, o grunhido é delicioso, o suspiro é mágico.
Esse mesmo pescoço te faz ter vontade de aquecer os pés dessa pessoa, te faz querer dormir agarradinho a noite toda, te faz mergulhar num olhar, e se sentir em casa numa terra estrangeira.
E eu não estou falando de perfume. Não, perfume é outra coisa, é apenas uma muleta, um suporte, é somente uma aura divertida que fica pairando por ali. Eu tô falando de pele, do cheiro particular que cada um tem.
Sempre exaltei as funções dos sentidos, eles são perversamente perfeitos. Tanto falo do olfato e ele anda de mãos dadas com o paladar e... Ah o sabor! Os sabores! Teus gostos. Teu cheiro entrou em acordo tácito com teu sabor pra me ensinar gentilmente que o sal do suor é diferente do sal das lágrimas e o sal do gozo se renova no turbilhão de emoção.
E sempre que te vejo de lá pra cá, com tamanho despreendimento de roupas, me encanta te admirar. Meus olhos te seguem ao mesmo tempo ávidos e em paz. Aprendi a me despir por tua causa, porque tornas tudo tão leve e natural.
Adoro ver-te livre, quando dormes tranquilamente sem nenhum adereço, apenas tua pele sobre a cama, despretensiosa, desprendida de pudor, apenas ali, repousando, em plena tranquilidade. Então sem qualquer orgulho, tu juntas teu corpo ao meu, apenas para descansar e tudo como numa perfeita engrenagem começa a se conectar; tua pele e a minha se cumprimentam, se conversam, se unem de uma forma muito natural, os cheiros se misturam, os olhos se fecham e os corações passam a bater na mesma sintonia.
E assim eu fico escutando a tua respiração, cadenciada, sabendo que não haveria nenhum outro lugar melhor para se estar.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

SERÁ QUE ELA É?

Muitas mulheres já devem ter se perguntado, ainda mais nessa era tão moderna em que as relações se tornam cada vez mais instáveis e sem tempo: “será que o problema sou eu?” “Será que preciso mudar alguma coisa?”Será”? Será e vários serás surgem.
Por favor, mulheres do meu Brasil e do mundo, não cantem para si mesmas dominadas pela dúvida aquela música de Ângela Maria: “Será que eu sou feia?... Então, por que razão eu vivo sem ter um bem?” E não se conformem com respostas rasas como: “ Você tem o destino da lua, que todos encanta e não é de ninguém”.
Muitas ficam se perguntando se o fracasso em suas relações teve a ver com seu jeito de ser e pior: com seu jeito de estar. Estar magra demais, estar gorda demais... Ops! Ouço um alarme tocando aí. O que define o “demais”? E mais: o que define um referencial individual de beleza? O mundo tem frases prontas “gordofóbicas” para nos inferiorizar, mas acredite: “Don’t believe in nothing about this, it’s every bullshit”!
Não encare como comuns comentários do tipo “É gordinha, mas tem um rosto tão lindo”!

Tá gorda né, será doença?; Não, você não está gorda, está inchada!; Não fique por aí dizendo que está gorda!; Está bem, mas se perder mais três quilinhos... vai ficar perfeita!; Nossa, com tudo isso e usando decote e roupa curta? 

Tem certeza que no seu caso não é melhor um maiô? Biquini expõe tanto, né? 

Você só fala em fazer gordice! Toda gordinha é legal! Ele está com ela porque ela é uma ótima pessoa; Claro que ele não vai dizer, mas prefere você mais magra cuidado, senão ele te deixa hein garota! ... E por aí vai. O repertório de frases gordofóbicas e canalhas não tem fim. Inclusive acho que já ouvi todas em diferentes fases de minha vida.
Você tem que ter uma “paciência” de elefante para lidar com pessoas assim e o mundo está cheio delas. O que posso dizer é que jamais me deixarei incomodar por comentários tão desprovidos de inteligência emocional como esses. Isso porque respondendo a tudo isso citado acima, o que posso dizer é: eu sou linda como um todo e não apenas meu rosto. Gosto de comer e pasme ou não eu gosto de ser curvilínea, não preciso emagrecer para ser linda, não preciso ser magra para usar um biquíni e o que eu faço com minha alimentação não é “gordice”, é assunto meu me alimentar e não me preocupar com sua opinião tacanha sobre o tamanho do meu manequim. Meu peso não é termômetro de simpatia, não sou obrigada a ser legal se eu estiver gorda, afinal, sou legal se eu quiser. E o que ele viu em mim foi justamente algo que o seu preconceito pautado em padrões inferiorizantes jamais conseguirá enxergar.

Lembro de uma frase de um amigo que sempre diz: "adoro uma mulher renascentista". E eu digo: "Adoro ser renascentista"! 

E se o amor um dia acabar eu mesma dou o veredicto: “meu peso é inocente”, não teve nada a ver com isso. E você sua linda, não seja “gordofóbica” consigo mesma, seja apenas você. 

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

COMECE POR AQUI

COMECE POR AQUI

Um livro cativante e repleto de novidades. Um livro para artistas. A capa do livro já é bem sugestiva, traz uma ilustração de um labirinto, exata representação de como nos sentimos quando estamos atormentados por muitas atividades que acabam sufocando nossa criatividade. A proposta é sair do labirinto que nós mesmos criamos.
Não há uma única página que não seja interativa. Ele tem uma temática de incentivo a iniciar ou retomar projetos. “O truque para começar é parar com o papo furado e começar a fazer”. Às vezes ficamos presos naquele ciclo vicioso de começar sempre na segunda feira e acabamos por adiar projetos importantes e pior, engavetando outros tantos!
 

Desengavetar esses projetos e de uma maneira leve, divertida é a principal proposta desse livro. Devemos evitar correr o risco de se “viciar” em arrumar novas atividades e ficar vendo as ideias irem e virem. O primeiro passo parece ser admitir que um “start” precisar ser dado. Assumir os porquês. O que tanto tememos? O fracasso? Não alcançar as expectativas esperadas? Expectativas de quem? O fato é que transformar ideias em realidade não é fácil.

É trabalhoso acumular o trabalho, ainda mais o trabalho criativo. Por isso esse livro é tão interessante, ele traz uma série de propostas, técnicas e truques para se “reencorajar” e conseguir transformar as ideias em realidade. É PRECISO PERDER O MEDO DA PAGINA EM BRANCO.
Procrastinar é fácil. O contrário é difícil. A proposta é tornar a decisão de sair da estagnação também se tornar um hábito. Atitude positiva também conta e o livro nos relembra que um dos principais motivos para se abandonar projetos é o pensamento negativo. Ou seja, pensar demais se torna um perigo! O livro também traz frases bem positivas, tais como:
“POSSO ACEITAR O FRACASSO,
TODO MUNDO FALHA EM ALGUMA COISA.
MAS NÃO POSSO ACEITAR NÃO FAZER UMA TENTATIVA”. (Michael Jordan)
“O FUTURO QUE VOCÊ VÊ
É O FUTURO QUE VOCÊ TEM” (Robert G. Allen)
Você deve se perguntar: “O que está me impedindo de começar um projeto”? Pode-se até fazer uma lista, para dar uma visão geral da situação. Apreciei as propostas que levam o leitor para o futuro e para o passado, dando uma visão global do que aconteceu e do que se pode mudar.
Uma lista de regras para deixar de procrastinar:
1 – Não tenha medo de fracassar
2 – Admita quando você estiver procrastinando
3 – A procrastinação engole seu tempo livre
4 – ter uma porção de objetivos menores é melhor do que um grande
5 – Fazer alguma coisa é melhor do que não fazer nada
6 – Quanto antes você der o primeiro passo, mais cedo começará a andar
7 – Hoje era o amanhã de ontem.

“O TRUQUE PARA COMEÇAR
É PARAR COM O PAPO FURADO
E COMEÇAR A FAZER” (Walt Disney)

Mandei o desafio pra um amigo e ele aceitou.
 


E você, vai começar quando? Vai começar por onde?

Abraços literários e bom trabalho!

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Os meus anos 90


Quando eu estava me tornando adolescente, todo o mundo diante de mim parecia uma grande e épica odisseia a desbravar. Especialmente no quesito de lidar com a minha feminilidade, minha marca no mundo. Eu me sentia terrivelmente perdida e estressada diante de tudo que parecia existir para as mulheres darem conta de sua beleza. A pergunta que vivia rondando minha cabeça era: como uma mulher consegue ser mulher?
Parecia haver tantos detalhes misteriosos vindos diretamente do infinito especialmente para elas que eu ficava imaginando quando tudo isso viria até mim. Eu queria ser uma mulher, mas, não qualquer mulher, eu queria ser uma mulher linda e de bem com a vida como via minha mãe, vizinhas e algumas mulheres ricas das novelas. (Não que minha mãe fosse rica ou chegasse perto disso, mas sua alegria sempre lhe trouxe uma riqueza especial).
Uma vez, vi no lixo da minha vizinha uma embalagem de um hidratante “Davene” e pensei: “que embalagem linda! Como ela pode jogar isso fora?! Eu brincaria eternamente com isso”! Pensei que aquele deveria ser o segredo de beleza dela, porque ela era a mulher de verdade mais linda que eu já tinha visto.
 

Eu admirava tudo nela, seus cabelos loiros que na época eu não fazia ideia que fossem tingidos, seus pelos dourados dos braços, das coxas e aos meus olhos ela era uma semideusa do amor ou algo assim. Linda e independente: tudo que eu queria ser também. Eu queria ser daquele jeito da minha vizinha. Percebia que todos os homens a desejavam, e eu achando que seu poder vinha do hidratante de aveia Davene e dos banhos de mel que ela dava nos cabelos.
 

Lembro que certo dia ela me chamou para fazermos uma máscara de mel para passar no rosto e nos cabelos, alegando ser fonte inesgotável de beleza e eu me senti tão honrada, como se tivesse sido convocada para o Miss Brasil. Era a “minha-vizinha-deusa-do-amor” me chamando para um ritual de beleza, algo destinado apenas às mulheres adultas e lá estava eu, quando ela poderia ter chamado qualquer uma de suas amigas.
 




Uns vinte e dois anos depois e eu ainda me lembro daquele momento, da sensação de poder que tal convite me conferiu. Claro que o programa não foi perfeito, porque fizemos ao ar livre e algumas abelhas vieram nos incomodar, ou prestigiar, vai lá saber! Mas, aquela foi de longe a minha primeira experiência como mulher de verdade, inclusive com os percalços da situação, me avisando que ser mulher não é ser perfeita ou viver situações nesse nível.


Por isso, acho muito válida a influência que mulheres mais velhas exercem, sejam elas mães, tias, vizinhas, madrinhas, quase que inconscientemente sobre a vida de meninas que estão entrando na tão misteriosa e obscura adolescência. Se iniciar como mulher não é fácil, se descobrir como mulher menos ainda. Acho que todas já passaram por algo parecido e sabem exatamente do que estou falando.
Lembro também que lia desesperadamente revistas de beleza, dicas de maquiagens, cuidados com os cabelos, pele, unhas, depilação, exercícios... Era tanta informação nova que eu não fazia ideia de como processar tudo aquilo e metade delas eu realmente nem precisava naquela fase da minha vida.  Vivia lendo rótulos e fórmulas e para quê? Nunca fui boa em química! Isso eu também lembro perfeitamente.






O que afinal, uma menina de nove anos dos anos 90 podia entender de ácido glicólico, retinóico ou salicílico? Confesso que às vezes minha cabeça chegava até a doer, mas acho que era mais a pontada de decepção, como se eu não conseguisse fazer nada direito pra ser uma mulher de verdade.
Óbvio que hoje muita coisa mudou o acesso à internet permite qualquer pessoa saber o que quiser sobre qualquer coisa. Nossas crianças de hoje em dia, que em nada se parecem com as dos meus saudosos anos noventa, são naturalmente sofisticadas e entendidas de tudo um pouco.

Contudo, concluindo, posso dizer que minha adolescência nos anos noventa com todas suas descobertas e decepções, foi sem dúvida a melhor época da minha vida e eu não trocaria por nenhum Google. 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

TERMINE ESTE LIVRO

O Brasil vive uma onda de livros interativos (o que eu acho fantástico), pois, oferece um espaço muito ou quase nada visto antes à criatividade dos artistas. O primeiro livro que eu comprei foi o “Destrua este Diário”, o qual já postei a resenha aqui e confesso que não tive coragem de destruí-lo. Depois disso, outros vieram, por falar nisso, Kery Smith faz muito sucesso por esses lados de cá do mundo e não é para menos, a moça consegue emplacar sucessos seguidos e manter o interesse de seus leitores.
Outros vieram e um que eu resolvi me aventurar foi o “Termine este Livro” que já chega interativo no título, que faltando algumas letras, é o leitor/escritor que tem que completar. Particularmente adorei essa proposta de terminar um livro, adoro escrever, tenho veia poética, pra prosa, enfim, receber um livro que “pede” pra ser terminado é como dar uma barra de chocolate pra um chocólatra, algo assim.  

Estou adorando interagir com esse livro, talvez justamente porque sinto que estou “resolvendo” um mistério. Desde o início o livro já pede para você colocar suas digitais (meio que te autuando) para um caso. Ele estimula não somente minha criatividade, como também minha curiosidade, o que me faz querer chegar até o fim.





Não que eu esteja achando que será uma tarefa fácil, pois, há alguns mistérios para ser solucionados e acho que o gostoso mesmo do livro é justamente realizar as tarefas cada um no seu tempo. Tenho percebido que essa minha interação com o livro, apesar de ainda não ter chegado ao fim, tem-me proporcionado uma maior ligação comigo mesma e com o mundo à minha volta, tem me deixado com o olhar mais aguçado sobre o que acontece ao meu redor, enxergar com mais atenção as coisas e principalmente as pessoas.


Tem sido uma boa experiência e posso dizer que sem sombra de dúvidas Kery Smith acertou mais uma vez. Qual será seu próximo passo, ficamos então aqui nos perguntando. Bem, o que eu sei é que talento ela tem de sobra e eu, por enquanto, vou ficando por aqui. “Don’t cross the line - yet”.



sábado, 13 de setembro de 2014

DOIS EM UM - Alice Ruiz


Alice Ruiz nos faz pensar que também podemos ser bons, nos convence a cada página que existe em algum lugar dentro de nós um poeta louco pra respirar e passear na sua “nuvem feliz”.
“Dois em um” é o que já foi chamado de “indispensável”. E tudo o que não se dispensa, deve-se ir em busca, não?. No entanto, difícil mesmo é encontrar, conseguir reunir toda a obra escrita da autora, pois muitas delas estão esgotadas e quem já possui seus exemplares raros, não pensa em abrir mão.
Nos cativa em “Dois em Um” sua criatividade alegre, leve, cheia de humor e reflexão. A temática feminista e feminina é recorrente nessa sua obra, que mesmo refletindo um período de uma época, ainda é comumente atual:
Tua mão
No meu seio
Sim não
Não sim
Não é assim
Que se mede
Um coração

Enchemos a vida de filhos
Que nos enchem a vida...
Outro me enche de esperança
E receios
Enquanto me incham
Os seios.

Hoje sou uma das coisas
Raras do planeta
Capaz de dar à vida
Tudo que ela tem de luz...
Tão rara
E como eu
Todas as sementes
Que o vento arranca de tudo
e atira no nada.


O ai
Quando um filho
                          cai


E agora Maria?
O amor acabou
A filha casou
O filho mudou
Teu homem foi pra vida...
E agora Maria?
Vai com as outras
Vai viver
Com a hipocondria.


Humilde
Para ser uma
Úmida
Para ser duas
Única
Para ser muitas.


Me quer igual
Qual mel
Qualquer.


Gotas
Caem em golpes
A terra sorve
Em grandes goles
Chuva
Que a pele não enxuga
Lágrima
A caminho de uma ruga
Água viva
Água vulva.


O que é o que é
Usada e abusa...
Amainada para mãe...
Ordenada e ordenhada...
Dá a luz e vive escondida...
Mal informada forma pessoas
Foi vocada a não ter vocações...
Inclinada por instinto só ao lar...
Econômica nada entende de economia.
Domingo dia do Senhor, não descansa...
Consumidora voraz é vorazmente consumida...
No dicionário figura fêmea do homem...
Produz pouco porque já reproduz e isso lhe basta...
As suas tentativas de participação recebem como intromissão...
Pode escolher entre o céu e o inferno
Mas a terra não
Essa é do sexo oposto.
Entrave para a liberdade masculina através das
Traves da obediência...
O futuro acaba junto com a beleza.
Se for grande é porque
Está detrás de um grande homem.
Nascida para dentro
Aí ficará até que a terra
Coma o resto que os homens deixam.


Há mulher mais bela do que eu?
Olhar doce
Azul turquesa
Abertos á força de rímel?
Olhos que não veem
Coração que não sente
Fotografia em movimentos...
Sobrancelha arqueada
Falta pouco para ser amada.
Caricatura, minha cara
Ranhura na moldura
Essa ruga
Não deveria estar aí
Se multiplica
Contra a vontade
No tempo gasto
Para não deixar
Aparecer o tempo
Me diga espelho meu.

E no meio das páginas, mergulhamos na sensualidade constante, desses seus poemas:

O corpo cede
Letras se sucedem
Um verso doido aparece...


A gente é só amigo
E de repente
Eu bem podia
Ser essa mosca
Perto do teu umbigo.

Faz de mim
Gato e sapato
Me desconcerta
Me conserta
Me espanta
Me aperta
Me acerca
Me alerta
Me espeta
Me deita
E seu poder
Mais alto
Se levanta.


Longe hoje
Você me quer para ontem
E só vem amanhã


...tocar você
E ver você sentir
O que tem de sal
No meu gosto de menina.


Assim que vi você
Logo vi que ia dar ciosa
feita para durar...


Depois que um corpo
Comporta
Outro corpo
Nenhum coração
Suporta
O pouco.


Depois do beijo
A dor na boca
Dá saudade...
Ruído de cigarro e palavras
Ainda escuto
O silêncio do teu beijo.


Teu corpo seja brasa
E o meu a casa
Que se consome no fogo
Um incêndio basta
Para consumar esse jogo
Uma fogueira chega
Para eu brincar de novo.


Topa um pacto de sangue
Com essa cigana do futuro
Que lê
O passado na tua boca
O presente no teu corpo
E nos teus olhos
Tanto quanto nos astros?


Antes que eu te deixe
Deixa eu dar um gole em você
Ficar de porre até o verão...


E por fim a dor que fica quando um amor se vai:


Vontade de ficar sozinha
Só para saber
Se você ia
Ou vinha
Quando deixou
Esse bagaço
No meu peito
Pedaço estreito
Defeito na mercadoria
Do jeito que você queria.


Não vá fazer
Besteira
Cachorro
Que cheira
Cada pé que acha
Procurando
Quem o queira

Todos esses poemas estão nessa encantadora obra que difícil seria não ganhar o Jabuti. Alice Ruiz carrega na mão o merecido prêmio por sua importante contribuição à nossa Literatura Brasileira e sem dúvidas, carrega também um pedacinho de nossos corações que ela sabe ler tão bem. Cigana da alma feminina, trapezista da vida que tem um olho sábio e sagaz para o mundo a sua volta.

Aqui ficamos então com esse gostinho de “quero mais” e orgulhosos de termos uma representante com tanta força em nossa Literatura. Alguém que não queremos que pare de caminhar nos caminhos oblíquos da nossa poesia, alguém que queremos dar a mão e andar juntos.