quarta-feira, 19 de março de 2014

Análise - SEDA de Alessandro Barico

UM OLHAR NARRATIVO SOBRE UM POSSÍVEL “PENTAGONO” AMOROSO EM SEDA

Introdução
Para o amor não existe fronteiras, certo? Pode haver controvérsias. A perspectiva de amor pode ser relativa e única para cada ser humano. O texto ficcional escolhido para análise foi o romance SEDA, de Alessandro Baricco (2007), onde foi verificado que muitas questões em sentido amoroso entre as personagens ficam sem respostas, e nem é a intenção deste artigo respondê-las. Sendo mais interessante talvez, apenas pontuar mais uma visão sobre a obra, dentre tantas possíveis de serem elaboradas.
Primeiramente será feito um breve enredo do romance e após isso, será feita uma abordagem concernente à relação das personagens, seguido por uma rápida análise narrativa, antes de se colocar a questão do possível pentágono amoroso, verificado nesta visão da obra referida.

SEDA – um enredo cativante
Com relação à apresentação das personagens, apresenta a situação inicial da personagem principal, logo no primeiro capítulo, fazendo uma síntese de como era sua vida anteriormente, até o momento em que começa a narrativa. E as apresentações das demais personagens vão sendo feitas à medida que vão adentrando na história. Hervé Joncour é a personagem principal, que resolve deixar a vida do exército para vender bicho da seda e a despeito da rigidez esperada para um militar, Hervé fará diversas viagens para transportar ovos do bicho-da-seda, comprovando uma extrema habilidade em demonstrar delicadeza com algo que sequer nasceu.

Essa delicadeza se expande quando surge a complicação do enredo, que por causa da praga que afetara os ovos, Hervé viaja até o Japão para adquirir ovos sadios e nesse outro país, descobre um mundo completamente novo e que o transforma de maneira absoluta. Hervé é casado com Hélène, mas ainda assim, se apaixona pela mulher do seu fornecedor Japonês de ovos de bicho-da-seda e daí vem o desenvolvimento, pois muitas outras viagens se seguem, aparentemente não apenas por motivo de negócios, mas Hara Kei, seu fornecedor, obviamente não aprovou a ideia de ter sua mulher ‘cortejada’ e vai reagir, para impedir o romance. Além disso, o Japão está em guerra (1864), as pessoas estão fugindo, assim como a pretensão amorosa de Hervé. O negócio de seda está tomado por uma praga na França e tudo que Hervé pensa e naquela mulher que não tinha o rasgo oriental nos olhos. O clímax acontece quando ele recebe uma carta, aparentemente dessa moça, despedindo-se para sempre. Hervé acaba se resignando, após ter conhecido a natureza violenta de Hara Kei. Então vem o desenlace, quando Hervé descobre que a carta, na verdade foi escrita por Hélène, contudo, ele mesmo já está confirmado que não voltará a ver aquela moça outra vez.

 Relações entre as personagens de seda
Hervé (principal) e Hélène (antagonista) pareciam ter uma relação estável, sem muitas alterações, até que Hervé conhece a moça sem rasgo oriental no olhar e todos seus pensamentos se voltam para ela.
Depois, podemos analisar a relação de Hervé com essa moça (antagonista) que tomou-lhe o coração, sem nome citado, apenas um adjetivo (sem corte oriental no olhar), algo muito sugestivo e que desperta ainda mais a curiosidade de Hervé. A relação deles é de amor à primeira vista.
Então, Hervé tem um amigo, chamado Baldabiou (antagonista), que o incentiva e patrocina em suas viagens, amizade sólida, talvez por gratidão, já que fora Baldabiou quem o inserira no mundo do cultivo da seda.
Hervé tem ainda contato com Hara Kei, (antagonista), Vendedor japonês de Bichos-da-seda e que parece possuir tudo que o cerca, inclusive a moça que Hervé encontrara docilmente com a cabeça em seu colo. Ela não tinha nome, mas tinha os olhos mais expressivos que já vira na vida.
Por fim, Hervé tem contato com uma personagem secundária, Mme. Blanche, poucos encontros, todos movidos pela necessidade.

 A narrativa em SEDA
Desenrola-se a partir de uma relação de equilíbrio inicial, onde todos estão felizes com os lucros dado pelo bicho-da-seda. Daí ocorre a motivação: a praga está assolando os ovos, então é preciso ir buscar ovos bons, nem que seja do outro lado do mundo, no Japão. A motivação somente aumenta, quando Hervé se descobre completamente apaixonado, hipnotizado por aquela moça misteriosa e que lhe fazia tantas promessas somente com o olhar. No mais, como bom herói, também quer ajudar os amigos, por isso acha válido e quase honroso atravessar o planeta, somente para ser o mediador das vendas de ovos. Seu bom coração o induz a sustentar todos os empregados envolvidos na produção de seda, com o seu projeto de jardim, quando não é mais possível viverem de seda, por causa da guerra.
Temos então a transformação, quando Hara Kei, deixa bem claro que não irá permitir nunca esse romance entre o jovem casal. E a consequência, vem quando um inocente é morto pelas mãos de Hara Kei, devida a evolução do romance, como um aviso de que não irá tolerar traição. Diante desses acontecidos, Hervé percebe com perspicácia, que não poderá mais fazer negócios com Hara Kei, tampouco voltar a pôr os pés no Japão, para seu próprio bem e para o bem de sua amada.
Uma situação final se dá, quando um novo equilíbrio acontece, no momento em que ele recebe a carta e se convence de que aquele amor era mesmo impossível, que era algo para ficar somente na memória.

O universo Representado em SEDA
Trata-se da materialidade do espaço, vendo elementos como signos e que os mesmo signos podem ter diversas significações ao longo da narrativa.
Alguns signos encontrados em SEDA: Temos o Japão para Hervé, que cada vez que ele ia até lá, enxergava-o de uma maneira diferente. Temos também os ovos, a princípio significavam apenas meio de produzir riqueza, depois, chance de Hervé rever sempre o seu amor, o que lhe dava ânimo de cruzar o mundo. Há também a carta de despedida, que ele acreditara ser da moça, e depois, descobre não ter passado de uma criação de sua esposa, perdendo assim, todo o seu significado anterior. Pode-se ainda ser citado o próprio amor de Hervé pela moça, que depois que Hara Kei matar o criado por ciúmes do casal, significou para Hervé que Hara Kei falava muito sério e que iria até as últimas consequências para separá-los, nem que fosse com a morte de um deles, e assim, Hervé desiste de voltar ao Japão. Há ainda, o anel de Mme. Blanche, as flores nele representavam uma mulher cara e à disposição, até que depois, as mesmas flores vistas no túmulo de Hélène, significaram que ambas poderiam ter tido uma relação íntima, levando-o a desconfiar da idoneidade da carta recebida por sua amada.

5 – As relações intercaladas em SEDA e algumas considerações
 




 A MOÇA
Podemos iniciar a levantar algumas questões por aquela moça misteriosa, a qual a existência fez mudar todo o comportamento de Hervé no enredo. Teriam as convenções sociais do Japão, sido o suficiente para fazerem-na manter-se constantemente ao lado de Hara Kei, e não ter assumido uma postura ao lado de Hervé, o qual desde o primeiro encontro, ela fizera questão de demonstrar seu interesse por ele? Os acontecimentos decorrentes demonstraram que não era necessariamente amor, o que a “prendia” a Hara Kei, a menos que no Japão, o conceito de amor que faz duas pessoas se manter unidas seja diferente.
Mas, em todo caso, ela não era japonesa, mas, algo a fazia realmente manter-se ao lado de um homem, que mais parecia meter-lhe medo, exercendo uma função que mais parecia decorativa do que qualquer outra coisa. Talvez uma dívida antiga. (Afinal, Hara kei era uma espécie de provedor de todos à sua volta).
Quando ela, sem qualquer decoro, na primeira vez que vira Hervé, toma o seu lado da xícara, num beijo simbólico e aterrador para o mesmo, certamente já conhecia temperamento de Hara Kei. Ela deveria desconfiar que Hara Kei, como soberano de tudo que seus olhos alcançassem, assim como todos os seus outros pertences, jamais a permitiria sair de seu poder. Contudo, a postura que assumira fora de quem não estava preocupada, ou pelo menos a de quem estava mesmo disposta a desafiar seu provedor, pois não pareceu preocupada com sua reação.
Sem que a história daquele estranho casal fosse revelada anteriormente, é possível que aquela moça, pudesse vir guardando algum ressentimento contra o marido e quisesse afrontá-lo. Não se sabe desde quando vivia sob sua proteção e por quê. Ter tomado a atitude de dar sua serva para Hervé, para que representasse ela mesma, pareceu um simbolismo de que ela apesar de desejar outra vida, jamais poderia tê-la, enquanto Hara Kei vivesse. E esse, entre tantos outros atos da moça em favor de Hervé, não a colocava como uma companheira infiel?

 HERVÉ
Talvez se Hervé não tivesse encontrado oposição da parte de Hara Kei, houvesse abandonado a Hélène para ficar com a moça. Afinal, depois que a conhecera, ele fazia questão de enfrentar quaisquer perigos para estar no Japão todos os anos. Sua condescendência aos atos da moça o tornava no fundo desonesto com Hélène, que passava mais da metade do ano, sozinha, em casa, esperando o seu retorno daquela terra desconhecida. A construção daquele parque, projeto que esmerara por anos a fio, não parecia outra coisa, senão uma prova de amor, àquela mulher que provavelmente, jamais poderia ver seus feitos por ela. Dedicara todas suas energias num projeto de um viveiro, tal qual o de Hara Kei, e tanta atenção ele dera a isso que Hélène chegou a perguntar o que era e ele explicou-lhe que um viveiro servia para encher de pássaros e soltá-los “um dia em que lhe acontece alguma coisa boa” (cap39)... “louca prova de amor” (cap.23).

 HÉLÈNE
 Sempre demonstrou, durante todo o enredo, amar o seu, marido, fazendo de tudo para manter a relação bastante saudável entre os dois, muitas vezes, como descobrimos ao decorrer do enredo, tendo “passado por alto”, o comportamento alterado do marido desde que fora àquele país de todo desconhecido para ela. Preferiu assumir a postura de nunca tomar-lhe satisfação de nada, mesmo percebendo que o perdia cada vez um pouco mais, preferindo ao invés disso, promover a paz entre ambos, viagens que nada mais eram do que uma fuga da realidade já modificada entre o casal e aceitar todas as vezes que ele a deixava sozinha, para viver um sonho oriental.
Naquelas épocas de solidão, o grande “apoio” do amigo Baldabiou, fora fundamental, e até, pudera ter exercido grande influência em toda essa resignação de Hélène. Fato ainda mais estranho entre a relação desses, quando o mesmo Baldabiou, vai decide ir embora da França, e no momento da despedida, Hélène não resiste a se jogar em seus braços, num gesto quase desesperado, de uma mulher que sabe estar perdendo para sempre, alguém muito especial. Fora somente um gesto de retribuição por todos os meses que Baldabiou lhe fazia companhia, durante anos a fio, enquanto Hervé tratava de seguir seu sonho impossível em terras tão longínquas, ou Baldabiou, de fato, pela ausência de Hervé e grande período de solidão de Hélène, tornara-se mesmo alguém que poderia representar na vida dela, “um amor para recordar”, já que partia de uma vez para sempre.
O romance não faz nenhum tipo de comentário a respeito da atitude de Hélène na despedida com Baldabiou, talvez querendo mesmo deixar em aberto, questionamentos e considerações por parte do leito, referente à cena. E isso, nós leitores fazemos com prazer e afinco. Como por exemplo; diante de tudo isso, mesmo que Hervé tivesse sentido qualquer tipo de incomodo diante da cena, (Hélène nunca chorava – pag. 63) Era provável que Hervé não se sentisse no direito de reclamar algo a respeito, diante do seu “segredo” mantido no Japão e que não tencionava fazê-lo de conhecimento de sua esposa.
Isso pode nos remeter à lembrança de “Bentinho” personagem Machadiano, que jamais poderia ter a certeza se fora ou não traído pelo melhor amigo com sua esposa, embora paradoxalmente, Hervé não pareça estar atormentado por essa descoberta, já que se a certeza lhe faltava em relação a tal fato, de sua parte, as certezas sobravam em relação ao que lhe acontecia entre ele e a moça sem rasgo oriental no olhar.

 BALDABIOU
Baldabiou é apresentado no enredo como homem misterioso e pouco dado a assuntos sérios. Dada essa sua natureza, não seria de se espantar, caso ele tivesse mesmo ficado com Hélène, durante todo o tempo que Hervé ficara fora. Discreto como era e amigo, jamais daria esse tipo de preocupação ao amigo Hervé que já tinha muito como o que ocupar os pensamentos. Talvez, por isso o gesto da despedida tenha causado algum impacto em Hervé, que soubera manter a compostura e o silêncio, nunca tendo inquirido Hélène de forma alguma sobre o assunto, devolvendo assim a maneira gentil como ela sempre lhe tratara quanto aos seus segredos, desde que pisara em terras Orientais. Mas ele parecia saber, bem no fundo de si, que uma mulher que nunca chorara por coisa alguma, não acharia tamanho valor numa mera despedida de um amigo.
Mas supondo que Baldabiou assumira mesmo o posto de amante de Hélène, talvez o tenha feito, tomado por um sentimento camaradagem, que Hervé deveria aceitar com bom gosto, já que depois de suas experiências no Japão, tinha que esforçar-se para manter o interesse na esposa, uma vez que o seu coração agora estava tomado por aqueles olhos sem rasgo oriental.
No fundo, Hervé era grato à Hélène, por jamais tê-lo questionado sobre sua mudança comportamental, mesmo quando percebera estar perdendo um pouco mais o marido, em todas as viagens que ele fazia ao Japão.
 Interessante é notar que Hélène, somente toma a iniciativa de escrever a carta, depois que Hervé confessa a Baldabiou, que havia de fato, “havia uma mulher no Japão”. De outra forma, senão por Baldabiou, como Helénè tomaria a certeza de suas desconfianças? Mesmo que tal suposição da intervenção de Baldabiou nesse respeito não houvesse se dado, isso não diminuiria a força dos questionamentos entre os dois. E no ínterim, Baldabiou sabia de Mme. Blanche, pois a indicara para traduzir o bilhete dado pela moça a Hervé, quando este dissera que precisava de alguém que soubesse ler japonês.
E se antes disso, Mme Blache e Hélène, por algum motivo, já eram amigas, Hervé jamais poderia supor tal possibilidade. Coisa até muito possível, já que Mme. Blanche possuía uma loja de tecido sob o bordel e ambos eram seus. E, portanto, havia muito de Hélène que Hervé desconhecia e que ela levaria tais segredos seus consigo no dia de sua morte.
E Baldabiou ao partir, mostrara ser mais fiel à sua própria palavra, do que às suas relações com as pessoas, deixando talvez margem para se imaginar que mesmo que tenha tido um caso com Hélène, jamais havia lhe prometido coisa alguma. Se fora algo ocasional ou se cumprir uma promessa a si mesmo fosse algo mais importante, isso jamais saberemos.

6 Considerações finais
Os vários momentos ambíguos encontrados no enredo, não obscurecem o aspecto afirmativo do romance, concedendo até mesmo uma nova releitura da obra, abrindo um grande leque de oportunidades, para que o próprio leitor possa ir redescobrindo uma nova maneira de enxergar as entrelinhas do texto e possa criar um novo, sem se desprender totalmente do original. Sendo a obra não detentora de uma certeza definitiva, como qualquer outra obra ficcional, se torna um campo aberto para debates e suposições e reconstrução de novas visões.


domingo, 16 de março de 2014

Cheiro de livro novo – em um relacionamento sério com um livro


O livro novo carrega um quê misterioso em cada página, ao exalar um cheiro que de longe é o melhor e mais seguro entorpecente do mundo. Nas suas páginas, também vem aquela ansiedade velada de descobrir o final, sem deixar nada para trás, sem atropelar nenhuma vírgula, nenhum ponto final. Tudo é deliciosamente calculado, é uma doce tortura a que nos propomos, quando nos deparamos com o livro novo.

O livro com o passar dos dias, depois de muito ter nos inebriado com seu cheiro de paraíso literário (sim, porque o paraíso dos livros deve ter o ar com cheirinho de livro novo), então nos leva a evoluir para um novo estágio de relacionamento, um de sentimento de posse, de ciúmes, e não somos capazes de emprestar a ninguém antes de terminar de lê-lo (muitas vezes nem depois), e ele começa a ir para todos os lugares conosco, temos prazer em levá-lo para passear no parque, só para ficar um pouco mais sozinhos com ele, e não há mais espaço em nossas mãos, quando saímos juntos. Formamos um belo par.

(imagem da internet)

Também costumamos levá-lo para o nosso trabalho, à faculdade, para sair com os amigos, e no fim do dia, ele vai estar lá do seu lado na cama, nem que seja na cabeceira. Eu chamaria isso de “está num relacionamento sério com um livro”. Nesse ponto eu sou volúvel e vou para cama com vários diferentes por ano. O relacionamento é sério, até vir outro pelo qual eu me apaixone mais, e daí o ciclo de amor e delírio recomeça.
E falando de cheiro, e cheiro tem muito a ver com instintos e com pele; eu não sei vocês, mas eu chego até a me arrepiar, dependendo do cheiro do livro. Não, eu não estou sendo extremista e vou explicar: os livros “não” possuem todos eles o mesmo cheiro. Não mesmo. Os cheiros são diferentes, porque depende muito da textura, do tratamento do papel e até das tintas que são utilizadas na impressão. E quando ao cheirar um livro novo, com aquela empolgação da “aspirada profunda” e aquilo consegue me remeter aos livros que eu lia na minha infância, sim senhor, isso consegue me arrepiar. Isso faz algum sentido? Para mim faz total!
(imagem da internet)

Não posso, contudo ser hipócrita e dizer que todo livro novo cheira bem. Alguns livros, especialmente aqueles com muitas ilustrações, recebem um tratamento nas páginas que deixa aquele cheiro esquisito que eu não sei dizer se é cheiro de cola, mas lembra muito o cheiro de encarte de loja ou algo parecido. Quando cheira assim, só se o livro for muito bom para eu comprar, porque costumo ter enxaquecas com esse tipo de experiência.
O cheirinho de livro novo, (quando agradável), quase sempre traz uma expectativa, que é de que vamos fazer algo que gostamos que é LER! Mergulhar no universo da leitura que somente o livro consegue nos transportar com tamanha propriedade.
Os gostos são variados e alguns preferem os mais velhos. “Os novinhos têm seu charme, mas particularmente, preferimos os mais velhos”. Certo, nada contra! Eu mesma já fui muito adepta dos mais velhos e toda sua experiência, a história que carregam em cada marca, cada cicatriz... Não tem como não se render ao encanto dos mais velhos também.
Os livros possuem o dom de nos entorpecer, de nos fazer rir a toa, sonhar, e até idealizar uma biblioteca gigante que jamais conseguiríamos ler em apenas uma vida. Eles também nos fazem ter remorso por não conseguir comprar todos os livros “queridinhos” sempre que vamos a uma livraria e mais ainda por não ter tempo de ler aqueles que já adquirimos, nos fazem ser indiscretos por querer vasculhar a capa de algum livro que alguém (desconhecido) está lendo e sentir uma pontinha de inveja (ruim mesmo), quando a pessoa está lendo justamente o livro que você vem planejando adquirir faz meses!
(imagem da internet)

Não há dúvidas: é de fato um caso de amor que começa na entorpecência do cheirinho bom e termina quando... Corrijo-me, não termina nunca! O círculo é vicioso que te leva a querer sempre a adquirir cada vez mais e mais livros, mesmo que não tenha mais onde guardá-los, mesmo que as pessoas que vivam com você insistam em dizer que você precisa se livrar de “pelo menos” metade daqueles livros, nem que seja pra comprar mais e você olha estupefato com aquela cara de “oi???”. Essas pessoas jamais entenderão seus sentimentos, suas relações de amor e dor para com seus livros e que, provavelmente, de todos os relacionamentos que você já teve na vida, esse parece o mais seguro e duradouro.

(imagem da internet)


Livro é a droga do bem

(imagem da internet)
Aprecie sem moderação.

quinta-feira, 13 de março de 2014

sobre Destrua este diário

Quando soube pela primeira vez (no ano passado) sobre a existência do livro “Destrua este Diário” achei a ideia sensacional, inovadora e não via a hora de tê-lo em minhas mãos e em bom português! O dia chegou por acaso, numa ida à Cultura para compras de livros teóricos e ao perguntar ao vendedor ele me disse que estava saindo como água! Peguei logo o meu copo! 





Bem, tempos depois da aquisição ainda estou aqui tentando digerir tamanha enxurrada de criatividade da autora e da proposta. Não é um livro para qualquer um. Não é um livro para mim “complicada e perfeitinha”. Fiquei dias, horas, com o livro nas mãos sem conseguir saber o que fazer.
Mostrei às minhas amigas, todas quiseram roubar o livro de mim. Não permiti, porque tinha um compromisso comigo mesma de vencer a dedicatória de Keri Smith, que diz “Dedico a perfeccionistas do mundo inteiro”. (sim é escrito assim mesmo). Eu compreendi a proposta e confesso que me senti até um pouquinho ofendida no começo e pensamentos me vieram como: “O quê? Essa debochada acha que não consigo destruir 20,00 reais?!” Ou, “ Eu nem sou tão perfeccionista assim... O meu quarto é uma bagunça...” Ou mais ainda: “Sou moderna, artística e descolada a proposta me cai como uma luva! Por que eu não tive essa ideia?!” Por quê?! Logo descobri que a proposta nada tem a ver com o preço do livro, mas, com você se desfazer de coisas que você construiu dentro de si, muitas vezes a um preço muito alto. (Mais um motivo para uma eterna inveja boa da autora).







Acho que esse por que me perseguirá ainda por um longo tempo, pois realmente a sensação que fica é de que era você quem queria ter escrito um livro assim. É algo tão simples e tão genial! Dizem mesmo que as melhores ideias são as mais simples, não é?
O livro foi pensado em cada detalhe. Dá para perceber isso à cada folheada que se dá. A curiosidade nos consome e queremos lê-lo como se fosse um livro comum. Não o é. Não se engane. A visão pós-moderna da autora nos leva a um reconhecimento de nós mesmos. Quanto mais relutamos em “destruir” um livro tão perfeitinho, mas percebemos quanto de perfeitinhos temos dentro de nós.
Vejo como uma ferramenta de suporte para a evolução pessoal acredito (se é que não estou sendo exagerada neste ponto), mas o livro me disse coisas que nenhum terapeuta teve coragem de me dizer até hoje, me abriu portas e mostrou coisas que antes eu não dava atenção, como ao fato de “simplesmente” ser uma pessoa apegada ao que está certo e organizado. Fez eu me questionar por que temo tanto o caos, questionar se eu não consigo destruir um mero livro de 20,00 reais (e reafirmo que a questão nem de longe é o preço), como pretendo então destruir coisas mais profundas dentro de mim?
Sim, posso ter uma pegada melodramática, mas é fato que o livro me fez refletir sobre mim mesma e sobre o que eu aceito como certo e estruturado dentro de mim e ao meu redor. Meses depois da aquisição, ainda me pego de vez em quando olhando para o livro, pego para folhear e ver se já evoluí no quesito desapego, mas nada! Nada! Continuo travada e acho que Keri Smith sabia que iria provocar também sensações desse tipo nas pessoas, com seu livro #destruaestediário. Acho que foi tudo premeditado, seja para atingir aqueles que conseguirem realizar a proposta do livro ou para aqueles como eu.
Não me envergonho de dizer que o livro está intacto e que provavelmente continuará assim enquanto estiver em minhas mãos. Posso dizer que (inversamente ou não) de alguma forma o livro também me ajudou. Acho que a proposta original era o autoconhecimento de si mesmo, o libertar-se e compreender que criação nem sempre é ordenada (criar é esculhambar) como a autora mesmo diz. Não foi porque não destruí o livro, que depois dele não vejo destruição/criação criativa em muitas coisas.









Parafraseando Quintana lembro que disse algo relacionado ao verdadeiro gentleman, comprar três livros: um para ler, um para pôr na estante e outro para dar de presente. Bem, seguindo esse pensamento, estou me preparando para ser uma verdadeira dama e comprar mais dois exemplares: um para deixar na estante e mostrar a todas as mentes criativas que cruzarem o caminho da minha casa e outro para dar a uma pessoa especial.
Ainda estou por aqui no meu processo de reconhecimento pessoal e evolução, tomando coragem para atirar meu livro contra a parede, lambuzá-lo de café, musgo, chiclete mastigado, folhas secas, insetos e tantas coisas mais. Mas já adianto desde agora que mesmo intacto, ele já produziu grandes mudanças em mim, um grande processo de reconhecimento do que sou e do que posso me transformar.
Aos que já deram o primeiro passo, meu sincero respeito e felizes congratulações por tamanha coragem. E aproveitando para dizer que não me vejo uma covarde, mas alguém que segue caminhando e ao olhar para o lado, está vendo a si mesmo.



De olhos fechado indico “Destrua este Diário”.

terça-feira, 11 de março de 2014

Passei num concurso e ganhei um chefe porre!


Sim colega, isso pode “sim” acontecer!
Quem passa anos a fio se dedicando ao máximo para passar num concurso, deixando de lado vida pessoal como esposo, filhos, amigos, happy hour, cinema e muitas outras coisas que dão prazer à vida de qualquer ser humano, muitas vezes pensa que esse é o único objetivo da vida e que ao ultrapassá-lo, finalmente viverá feliz para sempre. (som de disco arranhando na vitrola) Só que não!
Depois de uma jornada exaustiva de estudos dia após dia, de iniciar pelos grandes concursos da vida (os que começam com T) se é que você me entende, então vamos sentindo as derrotas seguidas e baixando nosso próprio nível de exigência, até que passamos a concorrer a cargos administrativos mesmo, o importante nessa fase, depois do segundo ano, para não entrar em colapso mental, é passar! Passar, não importam tanto assim as exigências anteriores. Não que tenha deixado de lado o sonho de ser um funcionário público que ganha mais de cinco mil por mês, mas por hora, pra começar, quase dois mil reais já ta dando por gasto (e os gastos de concurseiros são enormes).

                                                


(imagens retiradas da internet)

Enfim então, passa-se para um cargo administrativo, vem a euforia de ter passado, não vemos a hora do dia da posse! E ele chega! E nós, como chegamos ao nosso mais novo ambiente de trabalho? Muitas vezes deixamos de lado carreiras que ganharíamos bem mais que se estivéssemos ali, mas o nosso foco é a “estabilidade” do cargo. Mas... Somos estranhos no ninho, então chegamos como? Meio/completamente desconfiados, inseguros, com medo até de falar de menos ou demais! Até aí está tudo natural.
O problema é que os dias vão se passando e você começa a pensar naquela monotonia como “o que tem pra hoje e pra amanhã também”, você até se esforça para ser agradável e simpático com todos; solícito sem ser pegajoso; sorridente sem ser abobalhado (não quer que lhe interpretem mal), o reflexo da boa educação.
Contudo, antes de terminar o mês e você sentir o cheiro das verdinhas, que nem serão tantas assim, mas como já havíamos dito o foco é estabilidade, um trampolim para um “T” da vida, e na sua mera vida eis que surge um chefe chato pra Cacilda!!! Aí, ninguém aguenta isso! Alguém que sutilmente faz questão de retirar qualquer autonomia que você possa vir a ter no espaço, somente pra mostrar (com muita sutileza, claro) quem é que manda no pedaço.
E você nem tá querendo questionar a autoridade de ninguém, só quer fazer o seu e ir embora ao final do expediente! Mas o universo parece conspirar contra sua pessoa e você começa a perceber (sutilmente, óbvio) que sua vida está se transformando num verdadeiro e irritante inferninho diário.
Você quando levanta da cama não tem mais aquela empolgação da primeira semana, agora já conhece melhor as pessoas de sua repartição e sinceramente, preferia uma “repartição” dessas pessoas, mas infelizmente isso não será possível. Você quer continuar na sua cama quentinha e adoraria que o dinheiro caísse magicamente na sua conta bancária, sem ter que dar as caras por lá, mas como nada disso é possível, você é obrigado a surrar o próprio corpo e se levantar para “suportar com eterna alegria” todas aquelas pessoas estranhas/coleguinhas de trabalho, afinal, o maior incentivo para levantar da cama é lembrar o trabalho terrível que deu passar num “concursozinho” do nível de ensino médio e você fica se perguntando se o problema é com você, se está ficando mais burro e incompetente à medida que mais estuda, ou se o problema é que tem muita gente focada/paranóica/genial roubando alguma vaga que deveria ser sua.
É com lamento que descobre que infelizmente, passar num concurso não é a solução de todos os seus problemas e começa a pensar que nem o salário está compensando tanto aborrecimento diário.
Agora você é um ser frustrado, cansado e sem tempo para estudar para outro concurso melhor. É uma posição delicada. Ninguém passa num concurso achando que seu chefe vai ser um protótipo de um chefe controlador e dissimulado que transforma o ambiente público em privado. Aquele é o mundinho dele e você que está chegando é que tem que se adequar.
Muitos que não sentem na pele essa emoção (com a licença poética para o bordão do creme Monange), não vão entender o seu desespero, vão dizer que você está reclamando de barriga cheia, que muitos queriam estar no seu lugar e você não sabe dar valor ao que a vida te deu e que Deus pode até te castigar por proferir tamanhas asneiras. Mas só quem vive o doce desespero de ser concursado/perseguido pelo chefe/subliminarmente, pode saber do que esse texto realmente se trata.
No mais, você faz a egípcia na maior parte do tempo, finge ser gentil e simpático com gente que você saber que está sendo explicitamente falso com você, e espera mais um dia terminar. Afinal, deu tanto trabalho chegar até ali que você não vai jogar tudo para o ar como um “meme” louco enfurecido virando a mesa, só porque o seu cargo público não é nem de longe o ambiente dos seus sonhos.
C’est La vie mon ami! Bonne chance!
Amanhã, (a menos que você não amanheça), tem mais! Claro que sempre há aqueles que acertaram e que se sentem felizes e completos com os concursos que passaram. Mas, sem dúvida você não é mesmo um desses seres maravilhosos/maravilhados.

Um dia se acerta! Vai saber! 

Q.I

Todo mundo que tem família, sabe o bicho complicado que é. E engraçado também. Esse negócio de que família só presta em retrato, na maioria das vezes é pura verdade. Quando você está na merda, por exemplo, ninguém quer saber de você, se fala de dificuldades financeiras, fingem que não te escutam, mudam de assunto, se a coisa ficar feia mesmo de preferência te negam até o parentesco. 
Agora, vai você inventar de conseguir qualquer “merrequinha”, para você ver uma coisa! Surgem parentes, aderentes, recorrentes, inocentes e até os bem carentes. Todos querendo uma ajudinha, um empurrãozinho, algo que seja.
Claro que sempre por ordem natural das coisas, queremos proteger os nossos, afinal, o sangue fala mais alto nessa eterna guerra que é a vida. Sabe como é, mantê-los por perto, cuidar como uma grande águia, como se a vida não passasse de um grande ninho de aves que não se desprendem.
E por falar em bandos, isso me faz lembrar outra palavra: bandido. Não que eu queira sair por aí dando termos pejorativos a torto e à direita, mas imagine uma pessoa que assume um cargo de importância pública, por exemplo, e de repente, o que deveria acontecer por um justo processo de seleção, acaba se tornando uma imensa bola de neve, um emaranhado de parentada no mesmo ninho. Agora, se considerarmos a metáfora do bando do ninho, essa pessoa, é ou não é um chefe de bando?
Enfim, pode me chamar de ingênuo, mas ainda mantenho esperanças sobre várias coisas da vida, como o amor e a essência que move o ser humano. Sou um romântico! E sendo assim, insisto em fazer concursos públicos a quase vinte anos da minha vida. No fundo eu sei e as matérias de jornais não me deixam desacreditar disso, que a cada dia, existe mais e mais peixada e Q.I.
A equação é muito simples, preste atenção que se eu consegui, qualquer um consegue. Veja o enunciado:
“Considerando X um indivíduo qualquer, dotado de muito conhecidos e baixo conhecimento intelectual, qual será o resultado se X conhece Q que por sua vez possui I”?
Logo: X . Q.I = peixada ; e  X . Q.I² = peixada dupla!
Maravilha! Eu juro que nunca fui tão bom em matemática, mas a experiência vai ensinando a gente. Também juro que estou caminhando para isso, para deixar de ser ingênuo, embora me ache um caso perdido. Na verdade eu gostaria de deixar de ser ingênuo antes de completar meus sessenta e cinco de idade, afinal, depois disso, eu não vou mais precisar fazer concursos, porque eu já vou estar aposentado. (Mas essa já é outra equação).
Conseguir aposentar-se deve ser muito bom, afinal, é um investimento com retorno, ainda que mínimo. Agora me diga; quem vai me restituir todo dinheiro investido em concursos, todos fadados ao fracasso em que eu participei durante toda minha vida?

Perceba que não estou fazendo uma pergunta retórica e que na minha concepção, nesse caso, nem mesmo tendo quem indique pode ajudar. 

O HOMEM ANTES DOS 40

Difícil um homem ser Feliz antes dos quarenta. Tudo é possível, mas o homem novo é sempre mais ansioso. Quando é menino, tem ansiedades de crescer, de que chegue a tão sonhada emancipação dos dezoito anos. Quando faz os dezoito anos, percebe finalmente que as coisas nunca são como sonhamos e deseja voltar a ser criança. Mas, permanece a ansiedade de sair da cada dos pais, de casar, de conseguir um bom emprego, de ter a casa própria, filhos às vezes, cachorro, papagaio, periquito... E claro, uma casa com quintal.
Na verdade, isso aí é ansiedade de homem de vinte e poucos anos. Antes disso, o homem não passa de um adolescente desengonçado que deseja mais do que tudo no mundo, se livrar da incomoda virgindade. Nada pode ser mais importante do que isso.
As ansiedades dos vinte e poucos anos passam para os trinta com um forte ar de preocupação. Preocupação de saber que ainda não conseguiu comprar o tão sonhado carro para fazer inveja aos amigos e com sorte até ao chefe, por saber que ainda não se livrou do aluguel, preocupação em continuar sem aquela barriguinha de chopp, que afinal, já vem se mostrando.
O homem chega ao fim dos trinta e continua preocupado. É a preocupação com o consorcio do carro, que ele já conseguiu comprar, mas não pagar. É a preocupação com as prestações com a casa própria, em agradar o chefe, a esposa - fundamental - a sogra vem por extensão, os vizinhos, em pegar os filhos na escola na hora certa – isso implica nos agrados à esposa e sogra consecutivamente. Ainda há a preocupação em juntar dinheiro para o futuro das crianças.
É preciso dinheiro para o lazer, para comer, adoecer e até para morrer. O homem de trinta ainda não é feliz, porque a vida não deixa. Mas, é tão natural o andar da carruagem, que ninguém percebe isso. E todos seguem encenando nesse grande palco da vida.
Mais de uma década se passa e lá estão os quarenta e poucos anos, bem merecidos. É quase o descanso do velho guerreiro. O homem de quarenta já não está preocupado em pagar pilhas de contas intermináveis, até porque as piores ele já pagou entre os trinta e quarenta. Ele nãos e importa mais em bajular as pessoas à sua volta, porque já conhece todas com bastante profundidade. É por isso, que não se importa mais em bajular seu chefe, afinal, daqui a tão pouco chega a tão sonhada aposentadoria.
Também não se importa em manter o corpo sarado, hoje até convive sem maiores conflitos com a barriguinha adquirida graças às várias delícias que a vida lhe permitiu experimentar. E tem que se estar vivo para experimentar as delícias da vida. Outra coisa que não se importa, é de provar ser o garanhão, afinal, a época não é mais de extravagâncias.
E se por um acaso, já na reta final dos cinquenta ele ainda permanecer solteiro, provavelmente carrega no mínimo um divórcio nas costas - certamente porque deixou de agradá-la – ele finalmente vai iniciar a sentir como é o sabor da liberdade. Nessa idade, ele é um homem bem resolvido consigo mesmo e com seu bolso, está tranquilo e em paz com o mundo. Pouca coisa o afeta.
O que agora, são os planos de viagem, visitar os filhos já encaminhados na vida, os projetos pessoais são retomados e vez por outra bata até o medo da morte. Coisa que antes ele até sentia, mas estava muito ocupado com tudo, para se preocupar.

A vida muda, o homem muda. E, no entanto, tudo permanece o mesmo.

Sobre como e porque resolvi escrever

Esse é o meu espaço para eu escrever livremente sem as amarras da Universidade. Sou cria de Federal e quem é ou já foi, sabe do que estou falando, de como é difícil escrever sem ter que citar sicrano, beltrano, beber da fonte não-sei-de-quem, embasar seu discurso no de fulaninho-de-tal...Enfim, teórico é o que não falta. E não acho extremo, uma vez que as produções acadêmicas são para a academia ou o meio acadêmico e você, mero aluno universitário, verdinho como uma uvinha, precisa mesmo embasar o seu discurso, na fala de alguém que já disse aquilo antes de você!
Até aí tudo bem, mas com o tempo, você vai percebendo, (ao menos eu), fui percebendo que ia deixando de escrever o que gostava; como gostava e o que é pior: a academia te deixa com medo de escrever, porque vai se construindo uma aura de que há tantos teóricos que escreveram ou estão escrevendo sobre tudo, e você vai achando que nunca vai escrever tão bem assim, que pra isso já existem os "deuses" da escrita teórica e quando percebe; está focado somente escrevendo artigos científicos, de preferência com um grau de excelência que possam ser publicados (afinal, ninguém quer perder tempo pra nada).
Bem, só tenho uma coisa a dizer: EU NÃO QUERO SER TEÓRICAAAAA, NÃO DESEJO DESENVOLVER NENHUMA TEORIA FENOMENAL (ou de qualquer natureza). Sou somente alguém que gosta de escrever e não quer ser julgada por causa disso.
A academia me gerou dois traumas: o primeiro foi ter medo de escrever (algo que estou me tratando por meio deste espaço) e o outro medo foi de ler. Sim, medo de ler! Porque há tantos clássicos, tantos monstros da Literatura de tantos países, que você não tem mais permissão para ler uma "literatura barata" que não te acrescente em nada em reflexões ou enriquecimento cultural. Bem, eu quero ser livre para ler o que quiser e comentar ou não sobre isso. Quero poder escolher entre ler um clássico da Literatura ou um romance que comprei por 0,50 centavos num sebo da esquina. Se vai ser ou não perda de tempo, se estou desperdiçando o tempo de me preparar para um mestrado ou doutorado, porque ando lendo "literatura questionável" "da modinha", acredito que a escolha é de cada um, assim como tudo na vida.
Basicamente, foram esses os traumas que a Universidade me causou, mas sobrevivi, quando saí, relembrei que eu posso ser eu mesma, sem ter que querer provar nada a nenhum professor ou colega boçalzinho. E acredite; ser você mesmo não tem preço. Às vezes o espaço acadêmico faz isso com você, suga o seu "eu" e você acorda um dia sem saber direito quem é ou quem de fato já foi um dia.
Não estou dizendo que a academia é um espaço ruim ou que tenho ojeriza a tal, mas apenas a minha impressão de tudo que vivi por lá. Provavelmente eu vou voltar pra lá mais cedo ou mais tarde, mas quando isso acontecer, eu vou estar mais consciente de quem sou e quais sãos os meus objetivos, antes dos objetivos de qualquer docente, orientador, examinador ou "coleginha" de turma.
É bom estar consciente de que eu não sou o que produzo na academia, eu não sou o que querem que eu seja no espaço acadêmico, que minha vida não se resume somente àquilo que esperam que eu seja. Antes de tudo que eu possa representar na academia, eu sou eu mesma e isso ninguém pode mudar além de mim mesma.











Tudo na vida é um aprendizado, isso é a pura verdade. O que fazemos com os ensinamentos, é o que nos torna diferentes uns dos outros.