"Escrever é
esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música
embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de
representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um
sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de
fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.
Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do
que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão
de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém
fala em verso."
Fernando Pessoa - Livro do Desassossego.
É
o seguinte: a literatura é algo que faço questão de manter na minha vida. E
adoro escrever. Gosto de ter por perto gente que escreve. Gosto de ler o que
escrevem e gosto de opinar.
Graças
a Deus a Literatura é algo que não tem definição oficial, o que nos leva para
muitos campos e nos permite ter maior liberdade ao falar desse tema. Algumas
amarras que tentam nos impor, às vezes mais atrapalham do que ajudam ou
clareiam.
Obviamente,
entendo que estudos aprofundados sobre autores e obras são necessários, afinal,
servirão de embasamento para outros estudos posteriores. Sou to-tal-men-te a favor do estudo de obras
literárias. O que me cansa às vezes, é o disco rodar tanto na mesma música, que
não há mais nada que se extrair dali, então começa um tal de “adivinhar” o que o autor quis dizer na obra tal e querer
embasar com o teórico X e com a teoria Y... Não sei; às vezes (só queria
lembrar) que os autores não querem passar nenhuma mensagem subliminar não no
seu texto, que ele quis dizer exatamente o que foi compreendido na leitura e
que o uso do “e se” é bom, mas “às
vezes”, desgasta o assunto. Já dizia Quintana: “Quando alguém pergunta a um
autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro”. (#fã de gente
sábia).
O
que e até onde é necessário, acho que vai de cada um e da época também. Afinal,
os estudiosos de obras, precisam levantar questões a serem respondidas, é
natural... Eu mesma faço isso o tempo todo. É querer achar cabelo na cabeça dos
gêmeos Tweedledee e Tweedledum? Nunca haverá resposta,
porque a Literatura não é campo de pontos finais.
Falando
em outros pontos, eu venho encontrando ponto e vírgula, reticências, exclamações
e tantas outras descobertas, numa nova literatura que venho estudando com
carinho e trabalhando para me engajar, que é a Literatura Surda.
Esse
termo também ainda não é definitivo, pois tudo relacionado à Cultura Surda
ainda vai se chegando com parcimônia. Alguns estudiosos falam Literatura em
Libras (mas aí deveríamos considerar somente o que é filmado?) ou escrito em
signWriting? Outros chamam de Literatura produzida por Surdos, mas sabemos que
ouvintes engajados na Comunidade Surda também escrevem temáticas relacionadas
com a identidade e cultura surda. Enfim, eu prefiro por enquanto, continuar
chamando de “Literatura Surda”, porque acredito que o termo englobe todas as expressões
literárias produzidas no meio.
Venho
falar dessa literatura porque vale à pena conhecer um pouco mais do que está
sendo produzido no Brasil e fora dele. De alguma forma isso nos aproxima dessa
cultura que para alguns ainda é algo tão misterioso e distante. A língua de sinais
no Brasil se chama Libras (Língua Brasileira de Sinais) e por muito tempo as línguas
de sinais foram proibidas, o que causou um retrocesso no desenvolvimento das
mesmas. (Sugiro a leitura do livro “Vendo Vozes de Oliver Sacks). Hoje no país
há uma retomada do movimento de expansão dessa literatura.
Não
é de admirar que tão pouca gente saiba ou conheça as produções literárias dessa
Cultura Surda que vem se estabelecendo cada vez mais fortemente no país, mas
ainda precisa de muito apoio tanto governamental como da população geral.
Ao
longo do tempo, farei postagens que achar interessantes sobre o tema, já que
muito me interessa. Para quem domina a Libras, vale à pena assistir nos canais
sociais, adaptações de histórias infantis principalmente, releituras e contações
de histórias de uma forma geral.
Abri
esse parêntese porque sou uma estudiosa dessas obras, então é natural que seja
algo presente na minha vida e que eu queira compartilhar com os outros. Eu vejo
a Literatura em todas as suas formas, como um presente para quem sabe
aproveitar.
A
Literatura nos dá asas, então, vamos voar!
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